1. Não se assustem mais com o noticiário. O drama de hoje pode ser
a tragédia de amanhã. As chacinas se sucedem, execuções idem, no aperto do gatilho
de um aparelho policial que é considerado um dos mais violentos do planeta. E
neste caso, é bom considerar que o braço armado das classes dominantes
inscreve-se entre aqueles que mais matam no mundo.
A este respeito, lembro-me
agora de um contundente artigo no Jornal do Brasil, de autoria de nosso saudoso
Betinho – sim, aquele mesmo, o citado irmão do Henfil nos versos de Aldir Blanc
e que Elis Regina imortalizou em “O bêbado e o equilibrista”. Betinho, há cerca
de 30 anos, deixou cravada sua sentença no título do seu libelo contra a
violência policial: PM – Para Matar.
2. Essa história é antiga. O imperial capitão-do-mato, caçador de
escravo fugido, agente armado da Casa Grande, agia decisivamente contra a
senzala, estendia o braço do feitor em punição, tingindo de vermelho-sangue as
terras plantadas pelo trabalho servil. Este enredo perdura até hoje, exacerbado
por uma violência que ao longo do tempo só se fez modernizar (tecnicamente),
justificando-se ideologicamente muitas vezes pelos meios de comunicação.
3. Falar sobre a violência que nos ronda dia e noite é o mesmo que
proclamar a vitória da morte sobre a vida. Para o brasileiro comum, homem do
povo (se é que isso ainda existe), a impressão que fica é a de que os bandidos
eliminaram todos os mocinhos da nossa grande aldeia.
Olhando ao redor, a impressão
que temos é que ninguém ainda se deu conta, pra valer, de que essa cultura do
extermínio, do ódio pelos de baixo
(aquele velho dito, “pobre tem mesmo é que morrer”, parece ter voltado à tona,
conscientemente ou não). Esse sentimento pode nos levar, a partir de tanto
homicídio, ao suicídio político e social. Esta constatação, óbvia para quem
tiver a coragem de desvendar nossa trágica realidade, é que levou um grande
brasileiro infelizmente desconhecido da grande maioria, nacionalista exaltado,
a temer pelo nosso futuro como
nação. Falo de um notável baiano, Bautista Vidal, que já nos deixou. Como
engenheiro, conhecedor profundo das nossas potencialidades energéticas, Vidal
não se cansava de alertar: “Somos, por isso mesmo, o país mais cobiçado do
mundo pelo grande capital multinacional”.