ANDANDO POR AÍ - Correio da Lavoura

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8 de out. de 2018

ANDANDO POR AÍ


 *João da Rua

A boa música para uma eleição fora do compasso

1. Neste clima pré-eleitoral, de uma disputa que revela, como nunca, o nível da degradação política da sociedade brasileira, a julgar pelas intenções de voto que as pesquisas nos informam, creio que muito pouca gente se deu conta de que, no espaço de tempo de uma semana, o Brasil perdeu três personagens de especial relevo de nossa música popular: Tito Madi, Ângela Maria e Francisco Carlos.
À exceção de Ângela Maria, um marco do vocal feminino em nossa música, foram escassos, como virou moda na mídia em relação à turma do passado, os registros na imprensa. Na TV, veículo de maior penetração e influência, somente Ângela Maria mereceu até aqui um levantamento histórico de sua atuação como cantora das mais preciosas da grande era do rádio.
Tito Madi, por ter sido um cantor que cultivou como poucos o samba-canção, prevaleceu, além de Ângela e Francisco Carlos, nos palcos noturnos das boates, seduzindo com seu canto romântico um público mais exigente e restrito. Ângela e Francisco Carlos brilharam particularmente nos auditórios das rádios, à frente a Rádio Nacional, quando a emissora-líder da radiofonia brasileira concentrava em seu vastíssimo elenco os grandes nomes da nossa cultura popular. Aloísio de Oliveira, do famoso e histórico “Bando da Lua”, que acompanhou Carmen Miranda em sua carreira de estrela no show business norte-americano, chegou a dizer um dia, já de volta ao Brasil, que os Estados Unidos, lógico, ganhavam em número de emissoras o Brasil (uma enorme diferença) mas nenhuma, costumava dizer, em separado superava a Rádio Nacional. Isso nos anos 40.  
Esses três personagens não mereceram, a meu ver, o devido destaque como protagonistas de primeira grandeza. À exceção da TV Cultura, as ditas emissoras comerciais, TV Globo à frente, com seus registros de segundos em horário nobre, na verdade se lixam para uma programação que mantenha viva a memória nacional. Até mesmo na hora da morte, como aconteceu agora neste final de setembro.

2. O CL está nas bancas a 24 horas das eleições. O que dizer deste pleito? A palavra fora-de-moda é intencional para nos lembrar de 1989, quando a “onda” Fernando Collor, um “bonitão” sem história, sem currículo, o “caçador de marajás” embalado pela Globo, terminou atropelando – como muito bem lembrou – o grande baiano Valdir Pires a todos aqueles que haviam lutado bravamente contra a ditadura, na primeira disputa eleitoral direta para a presidência da República.
Ontem, como hoje, o Brasil pode, mais uma vez, ser vítima do seu histórico analfabetismo político, agora agravado por uma cultura da violência que reativa o “prendo e arrebento”, de João Figueiredo, o quinto e último general de plantão da ditadura militar. E como tudo regrediu drasticamente no Brasil, baixamos até de patente: o general de ontem e o capitão de hoje.