Exigências feitas pelo Ministério Público estão colocando em risco a
sobrevivência do Abrigo Luz de Escol, situado no bairro Da Luz. A instituição
beneficente, criada em 1991 por Jorge Eduardo Mantilha de Oliveira, já
falecido, nos seus 28 anos de existência vem prestando um elogiável serviço de
amparo às pessoas que vivem nas ruas e praças, especialmente idosos,
deficientes físicos, pessoas doentes e dependentes químicos.
Para falar sobre os problemas que hoje afetam o Abrigo
Luz de Escol, de sua fundação e de sua história, o CL entrevistou esta semana o
seu atual diretor-presidente, Franklin Pacheco de Oliveira Mota.
Correio da Lavoura – O que é o Abrigo Luz de Escol?
Franklin Pacheco – O Abrigo Luz de Escol é um trabalho social, sem
fins lucrativos, fundamentado na caridade e no amor ao próximo, que teve seu
início nos idos de 1991, por iniciativa do já falecido Jorge Eduardo Mantilha
de Oliveira, que sugeriu a criação de um grupo que percorresse as ruas e praças
da Cidade, atividade a que foi dado o nome “ronda”, e que consistia em levar,
às pessoas que viviam nessas ruas e praças, idosos, deficientes físicos,
pessoas doentes e dependentes químicos, em geral usuários de álcool, uma
palavra amiga, um prato de sopa, fazer-lhes pequenos curativos e dar-lhes
roupas limpas. O número de doentes em situação de rua é muito grande, e, por
isso, viu-se a necessidade de criar um espaço onde essas pessoas pudessem
receber atenção mais humanizada, a fim de propiciar-lhes o restabelecimento da
saúde. Em razão disso foram construídos, inicialmente, 2 alojamentos, 1 para
homens e outro para mulheres, no terreno próprio onde hoje está situado o
Abrigo. O trabalho pôde prosperar porque contou, já nessa oportunidade, com o concurso
de uma médica, cardiologista clínica, Dra. Maria Alice Ferreira Lima Brum. O
número de necessitados foi de tal monta que determinou a construção de mais
alojamentos, e resultou, ainda, na mudança do perfil do trabalho, que era de
acolhimento em regime de curta duração (até que houvesse o restabelecimento de
saúde), para abrigo em regime de longa permanência.
CL – Esse Abrigo, como se sabe, foi criado pelo Sr. Jorge Mantilha,
pessoa muito conhecida na Cidade pelo trabalho assistencial que realizava em
prol da população em situação de rua. Com a morte dele, como foi a tarefa de
administrar a instituição?
F.P. – O Jorge Mantilha, como por todos sabido, foi um abnegado
trabalhador em prol da causa dos mais necessitados. A construção do prédio hoje
existente, na Rua Antônio Vieira, nº 472, no Bairro da Luz, se deveu à sua luta
e perseverança, apesar das praticamente invencíveis carências que enfrentava,
notadamente de recurso financeiros. Contudo, mesmo diante dessas enormes
dificuldades, tocava, praticamente sozinho, a obra assistencial, em prejuízo
até do convívio familiar, fato do que somos testemunha. Ele tinha como
característica da sua personalidade o excessivo otimismo; tudo para ele estava
sempre às mil maravilhas, quando, em verdade, não estava. Ele não dividia com
os amigos as dificuldades que enfrentava; procurava resolver tudo sozinho. Com
a sua morte é que passamos a tomar conhecimento das reais dificuldades que ele
enfrentava: não conseguia pagar regularmente 13º, férias, encargos trabalhistas
dos empregados da casa, nem tampouco os tributos que incidiam sobre a
atividade; obras que ele não conseguia fazer à contento; enfim, uma série de
problemas que viemos a conhecer quando assumimos a direção do Abrigo. O fato de
termos assumido essa direção de forma repentina, sem qualquer transição,
implicou que, só aos poucos, pudéssemos tomar pé, com efetividade, da real
situação e dos problemas enfrentados pela Instituição. Formamos uma Diretoria
que assumiu a direção da Casa, ciente das responsabilidades e dos compromissos
assumidos. O abrigo não foi criado para atender idosos em regime de longa
permanência; foi criado, sim, para atender à população de rua, em regime de
abrigo transitório, de curta duração, até que restabelecesse a saúde. O fato de
a instituição ter mudado o seu perfil, para atender a idosos em regime de longa
permanência, determinou a necessidade de observância de regulamentos
específicos, tais como do Estatuto do Idoso e da Vigilância Sanitária, o que
passou a demandar grande quantidade de recursos financeiros, o que não nos tem
sido possível obter no montante suficiente para fazer face às obras de
adequação do espaço físico, e à admissão de mão-de-obra especializada, no
número exigido. Esse é o nosso maior problema: falta de recursos financeiros
suficientes.
CL – Quando vocês assumiram a direção da Casa, encontraram, como
foi dito, uma série de dificuldades. O que foi possível fazer até agora para
contorná-las?
F.P. – Quando assumimos a direção da Casa tomamos ciência de triste
e preocupante quadro: dívidas da instituição para com o FGTS, o INSS, além de
13º e férias de funcionários. Essas dívidas já contavam perto de 8 anos sem
pagamento. Conseguimos, com muito esforço da equipe de trabalho, como também da
inestimável ajuda de muitas pessoas de boa vontade, e, ainda, de outras
instituições, parcelar essas dívidas, e estamos fazendo o possível para manter
os pagamentos em dia. No entanto a nossa situação ainda está muito difícil,
principalmente porque a crise pela qual está passando o país repercutiu também
nos nossos sócios mantenedores, que não estão mais podendo fazer contribuições
de forma sistemática. Estamos com receio de não podermos cumprir com todos os
pagamentos correntes. Precisamos, como já dissemos, de muita ajuda para sairmos
desse momento tormentoso, mas temos a fé inabalável de que isso será provido.
CL – É sabido também que o trabalho assistencial do Abrigo Luz de
Escol é permanentemente monitorado pelo Ministério Público de Proteção aos
Idosos e ao Deficiente Físico. Que tipo de atuação tem o Ministério junto a
Casa, e que exigências são por ele formuladas?
F.P. – O Ministério Público cumpre o seu papel institucional nos
monitorando e nos inspecionado. A nossa dificuldade maior é em cumprir
exigências pertinentes ao Estatuto do Idoso. Como já dissemos, o trabalho de
assistência da Casa nasceu e permanece baseado no sentimento do amor ao
próximo. Os órgãos de fiscalização se prendem somente na parte técnica e
jurídica, não levando em consideração o sentimento que permeia o nosso
trabalho; as pessoas abrigadas, se não contassem com a nossa assistência,
estariam, com certeza, vivendo em situação de penúria, nas ruas, e, muitos
deles, já teriam morrido. Os nossos abrigados, apesar das nossas dificuldades e
humildade das nossas instalações, recebem todo atendimento necessário à
manutenção da vida e da liberdade; são tratados com dignidade; recebem 5
refeições por dia, higienização, roupas limpas, cuidados médicos,
odontológicos, fisioterápicos, psicológicos, de enfermagem, de cuidadores e
acompanhamento social, e, ainda, dentro das possibilidades, participam de
atividades lúdicas (aqueles que têm condições físicas e mentais de fazê-lo). Os
nossos assistidos demonstram estarem satisfeitos com o atendimento que recebem,
o que pode ser verificado por todos com uma visita ao Abrigo. Os idosos e
deficientes físicos que acolhemos, apesar das nossas limitações e carências são
atendidos com humanidade, carinho e dedicação. Que adiantaria viverem cercados
de luxo se não houvesse amor envolvendo a tarefa assistencial? O nosso lema, na
instituição, é: “Primeiro a pessoa”.
CL – Quais têm sido as principais exigências dos Órgãos da
Administração Pública e do Ministério Público em relação ao Abrigo?
F.P. – As principais exigências dizem respeito ao espaço físico,
que, como dito, não atende ao que é estabelecido com relação a abrigos de longa
permanência. A instituição, como esclarecido inicialmente, foi acolhendo
pessoas nas ruas e, então, à medida que havia demanda, foi-se construindo um
novo espaço para atender às passos recolhidas das ruas, ou seja, conforme o
trabalho de acolhimento foi crescendo, foi sendo construído um cômodo novo, sem
levar em consideração exigência regulamentar alguma. A ideia não era acolher
idosos, mas pessoas necessitadas de ajuda que viviam nas ruas. Por efeito do
que foi esclarecido, contamos, atualmente, com 5 dormitórios, onde atendemos 50
abrigados. Naquela época nós já acolhíamos idosos, inclusive encaminhados pelo
Ministério Público, que tinha ciência do nosso espaço e das nossas limitações.
Desde essa época, ou seja, desde o início do trabalho, atendíamos ao Juizado, à
Secretaria de Promoção Social do Município, além de outras pessoas que eram
abandonadas no Hospital da Posse, a pedido da respectiva assistência social,
todos cientes das nossas dificuldades, mas, sempre nós os atendíamos. Nosso
problema principal é, portanto, a adequação do espaço físico, ou seja, da obra
que foi construído em todo o te
rreno. Para fazermos modificações precisaremos
de muitos recursos, porque será necessário modificar toda a estrutura atual, o
que, pelas condições financeiras reinantes, torna-se totalmente impossível.
CL – De que tipo de ajuda a Instituição está precisando?
F.P. – Toda
ajuda é bem vinda (alimentos, roupas, fraldas geriátricas, remédios, produtos
de higiene e limpeza, etc.). No momento nós estamos precisando, de forma mais
intensa, de ajuda financeira, para que possamos pagar nossas despesas correntes
e cumprir encargos trabalhistas e fiscais. É importante também a ajuda das
pessoas que nos visitam, para que se integrem ao trabalho, voluntariamente,
para conversar com os idosos, distraí-los com atividades educacionais e
recreativas, no entanto, como dito, a ajuda financeiras é a mais premente. Quem
puder colaborar, pode fazer doações por meio de depósitos no Banco Itaú,
Agência 0201, c/c 36430-4.