Não sou um “idiota útil” e
muito menos um “útil idiota”. O pensar livre não pode existir num país que
polariza até espirro, num país que cria antagonismos, dentro dos quais é
necessário curvar-se a verdades mais partidárias do que verdadeiramente públicas.
A alcunha “idiota útil” é um
termo pejorativo utilizado para aqueles que servem ao discurso das utopias de
esquerda, no nosso caso latino americano, que defende uma utopia chavista.
Posso dizer, então que não sou de esquerda. No entanto, sou de esquerda quando
não aceito que um deputado ou um comerciante valham dezenas de vezes mais do
que um trabalhador sem mandato ou sem capital de giro (sempre achei esse termo
chique); quando sei que o Brasil precisa de mais investimentos e eficiência,
não a bancária, tanto na educação básica como nas universidades públicas.
Por motivos óbvios, com os
quase quinze milhões de analfabetos úteis, sem contar os funcionais, mesmo
considerando os avanços dos governos do PT nessa área durante treze anos, é
irritante não fazermos nenhuma autocrítica nesse campo. Na minha humilde
opinião, o atraso acachapante da qualidade de ensino no nosso país deve-se à
distribuição mal feita dos recursos e das responsabilidades na gestão da
educação pública, ou seja, reside num erro estratégico e estrutural.
Estou convencido de que os
avanços alcançados pelo Partido dos Trabalhadores, através das oportunidades
oferecidas pelas Universidades Públicas como, por exemplo, as cotas, ficaram
restritas ao ensino superior devido a uma óbvia relação de causa e efeito,
empírica, de responsabilidade burocrática do Governo Federal sobre o ensino
universitário.
A educação básica, essa fica a
cargo do estado e dos municípios. E eis aí o problema. Menos recursos, menos
qualidade, menos eficiência, “menos educação”. Costumo ironizar essa situação
esquizoide, dizendo que, se o Brasil não mudar a legislação, passando a gestão
da educação básica para as mãos do Governo Federal, estaremos fadados a um
analfabetismo eterno. A estrutura define a conjuntura? Acho que sim.
O mais fascinante na discussão
em torno da educação é que nenhum plano cartesiano sobre esse assunto é capaz
de dar conta da formação do indivíduo. Prometi para mim mesmo que, neste texto,
não iria falar do governo Bolsonaro e dos filhos dessa “onda”, mas é impossível
não comentarmos a ignorância, a insensibilidade e a falta de equilíbrio no
texto desse time. Meu Deus, os responsáveis por essa pasta no atual governo não
cometerão erros, cometerão assassinatos culturais, enterros de sensibilidade
humana. Mas essa triste constatação não é o suficiente para obter resultados
positivos na educação popular.
Prefiro falar de nossas
maiores contradições. Tenho uma regra básica para medirmos avanços reais nessa
área. Se os filhos de “ricos” de esquerda e/ou de direita, começarem a
matricular seus filhos nas escolas populares, não por queda em seus orçamentos,
mas por constatarem que há uma indiscutível qualidade nessas unidades
escolares, não tenha dúvida, estaremos num país mais justo, menos analfabeto,
mais forte, mais sensível e, definitivamente, mais humano.
Ser de esquerda, pra mim, e
gosto disso, é desejar para os meus alunos de periferia e pobres o mesmo que
desejo para os meus filhos. Se não for assim, o que será? Se meus alunos desejam as mesmas coisas que
os meus filhos, significa que aqueles desviaram-se da causa revolucionária, do
compromisso com a “luta”? Por favor, precisamos elevar o nível da
discussão. Mas como encontrar e
selecionar argumentos necessários à discussão saudável, se a Filosofia foi
banida dos currículos? Como derrubar as falácias travestidas de fake news, se
cortaram a cabeça da mãe de todas as disciplinas?
Cortemos, pois, os cortes.