POR THIAGO RACHID
Nova Iguaçu perdeu um de seus filhos mais notáveis há alguns dias. Uma perda que nos emocionou muito, sobretudo àqueles que amam a cidade e o Correio da Lavoura. A perda de Robinson Azeredo é uma ocasião a mais para a reflexão sobre a memória de nossa cidade, não apenas por ter sido ele um dos guardiões de nossa memória, mas também pelo comportamento abjeto do prefeito municipal após essa perda.
O estadista é o sujeito que compreende o papel histórico que desempenha quando ocupa um cargo público. Um vereador pode ser um estadista, um prefeito deve ser um estadista. A maioria, porém, é de lideranças menores, medíocres. Nova Iguaçu é uma terra de enorme potencial, mas parece fadada a ser liderada por figuras canhestras como o atual alcaide e os que o antecederam.
O atual prefeito, figura pequena, cujo nome prefiro não mencionar, é desse tipo. Não foi à toa que para ele a morte de Robinson Belém de Azeredo passou em branco. Mas não apenas o nosso velho editor foi vítima dessa indiferença. Muitos outros. Ex-prefeitos, o ex-bispos, pessoas que ajudaram a construir a cidade, personalidades de todos os tipos se vão e não recebem homenagens, nem tem suas existências e feitos registrados na memória coletiva.
Posso citar de cabeça Sylvio Coelho, Mario Marques, Dom Werner, Luiz Carlos Guimarães, Fabio Raunheitti, Helio Cianni, Avelino de Azeredo, Irmã Filomena, Tuninho Távora, Padre Agostinho, Dona Sara Nascimento, Antonio de Oliveira Carvalho e o próprio avô do atual prefeito, Joaquim Vaz Martins, dentre tantos e tantos outros passaram por essa terra, ajudaram a construí-la, foram exemplos em alguma medida e a cidade não registrou qualquer homenagem.
E homenagens assim não existem para atender à vaidade das famílias, mas para ajudar a criar a identidade das novas gerações com a terra e mostrar para elas que seus antepassados tiveram valor, tenham vínculo familiar ou não com o personagem.
Imaginem quantas pessoas deram seu suor para construir bairros como Miguel Couto, Cabuçu, Valverde, Vila de Cava, Austin e todos os demais. Pessoas que chegaram nesses lugares quando não havia nada e levaram o comércio, ou abriram uma igreja, ou fizeram caridade, ou deram aulas para as crianças.
Vidas e legados que acabaram com a morte. Quanto desperdício! Celebrar a memória de personagens locais é um exercício civilizatório. A comunidade humana é uma construção que não pode esquecer de seus alicerces. Devemos aprender com os erros e acertos da nossa memória histórica. É preciso olhar para frente com a experiência adquirida na estrada por quem veio antes de nós.
A mediocridade dos nossos homens públicos promove estragos invisíveis tão grandes ou maiores que os visíveis. Se a cidade convive com o lixo, com as valas, as poças fétidas até mesmo nas vias mais movimentadas; se nas escolas chove tanto dentro quanto fora pela falta de manutenção; se todas as famílias já perderam pessoas próximas por falta de atendimento médico na rede pública; enfim, se tantas barbaridades visíveis frutificam a partir da incompetência e descaso das autoridades públicas, o que esperar que seja feito do nosso patrimônio imaterial se não essa pouca vergonha que foi a indiferença do prefeito com a morte de Robinson?
O que precisamos entender e é essa a minha mensagem nesse artigo é que é precisamente por esquecermos do passado que continuamos a reproduzir todas as nossas mazelas. A falta de memória é uma tragédia que reproduz tragédias.