Thiago Rachid
Na última semana nós falamos da Vila Histórica de Iguassú e prometemos continuar o assunto nesta semana. Porém, com a morte do urbanista Jaime Lerner, adiarei o retorno ao assunto para falar do ex-prefeito de Curitiba.
Lerner não era de Nova Iguaçu, mas deveria inspirar os iguaçuanos. Ao menos um iguaçuano ele inspirou: o nosso grande Vicente Loureiro, que com a partida do seu mestre e amigo Lerner, passa a ser a grande referência em urbanismo no país.
Quem já ouviu cinco minutos do discurso de Jaime Lerner conhece a famosa pergunta que ele fazia aos gestores públicos: “Qual o seu sonho para a sua cidade?”.
Eu teria medo de perguntar à maioria das pessoas envolvidas com política em Nova Iguaçu qual seria seu sonho na vida pública e ouvir como resposta “ficar rico”.
Porém, não corro aqui esse risco, porque essa turma nem é chegada à leitura, muito menos quando a leitura tem como tema Nova Iguaçu.
Para aqueles iguaçuanos que costumam ler o que escrevo eu fico à vontade para perguntar: qual o seu sonho para Nova Iguaçu? Respondendo ao convite que eu mesmo faço, citarei não um, mas vários dos meus sonhos para minha terra natal.
Para começar, já que estamos falando de um urbanista, um sonho óbvio seria que o nosso Vicente Loureiro, “produto” 100% iguaçuano, fosse conselheiro permanente da cidade e não se fizesse nada por aqui sem consultá-lo. Aliás, bom mesmo seria se ele fosse prefeito vitalício, mas isso já seria um sonho impossível.
Falando da cidade propriamente dita, tenho muitos sonhos para Nova Iguaçu, mas o primeiro que me vêm à mente é que a cidade fosse uma só. Explico.
A unidade iguaçuana é uma mera ficção jurídico-política. Existem muitas cidades dentro desse município e a maior parte delas não tem nenhuma sensação de pertencimento a Nova Iguaçu. E nem teria porque ter.
Parece-me que esse é um sonho que o urbanista gostaria de ouvir como resposta. Fazer de Nova Iguaçu uma só cidade importa em corrigir seus principais problemas. Em primeiro lugar, o sanitário, já que há uma total disparidade na oferta de saneamento básico e outros serviços diretamente relacionados à salubridade, como coleta de lixo, atendimento à saúde e até mesmo a nutrição, sobretudo das crianças.
Em segundo lugar, a integração dos iguaçuanos deveria se dar com atividade econômica que oferecesse oportunidades de emprego e renda no próprio município para que a população economicamente ativa passe o dia inteiro na cidade, ganhe e gaste seu dinheiro aqui.
Em terceiro lugar, a mobilidade urbana, afinal, para a cidade se integrar, é preciso que os cidadãos circulem por ela com facilidade.
É possível avançar ainda em outros aspectos, mas a intenção é relembrar o exercício que Lerner propunha para não deixar nunca de usar esse método na hora de pensar a cidade e refletir sobre o que podemos fazer para torná-la um lugar melhor.
Esse método – que podemos dizer que era uma espécie de maiêutica do urbanista – nos convida a uma reflexão multidisciplinar sobre a urbe. Uma grande sacada de um sujeito realmente brilhante.
E você: qual o seu sonho para Nova Iguaçu?
*Thiago Rachid é advogado.