Nelson Freitas
Ela é uma das maiores reservas de Mata Atlântica do estado e abrange cinco municípios, sendo que a maior parte está localizada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Sua área de 26 mil hectares comporta quase 1.400 Maracanã. Ela já foi apelidada como “Amazônia Fluminense” e até mesmo de “Pulmão do Rio de Janeiro”. Sua diversidade de flora e fauna é tamanha que lá ainda se encontram populações de suçuaranas, o nome brasileiro para os pumas (ou onças-pardas) e tem o único e menor anfíbio do mundo, o sapo Pulga. Por todos esses e outros fatores, considerando ainda o seu enorme potencial hídrico, em 1993 a UNESCO reconheceu a Reserva Biológica do Tinguá como Patrimônio Natural da Humanidade. Nos últimos anos, porém, o território está exposto a diferentes tipos de ataques e agressões ambientais sistemáticos, que vão desde os desmatamentos e o avanço das mineradoras, até a ação de caçadores que caçam os animais silvestres com a finalidade de fazer a venda de carnes exóticas ou os capturam para exportá-los, passando até pela extração ilegal de palmito. Sobram crimes e faltam funcionários e uma política comprometida em dar garantia à integridade da reserva.
Além do mais porque, por mais surreal possa parecer, a Reserva Biológica do Tinguá teve a sua sede administrativa transferida para a cidade de Teresópolis, o que levou a ausência dioturna dos poucos fiscais que tinha em sua sede, tornando a mata um espaço fértil para todo tipo de infração. Com a mudança, perdeu-se até mesmo os brigadistas anti-incêndio. É, portanto, fundamental exigirmos do Governo Federal a reativação imediata da sede da Reserva Biológica do Tinguá, com o retorno de toda a infraestrutura administrativa para que o bioma do Estado do Rio de Janeiro esteja devidamente protegido.
Em um estudo apresentado em 2019, a ONU (Organização das Nações Unidas) demonstrou que mais de sete milhões de mortes anuais se devem às péssimas condições do ar. É fato que a ação humana tem causado a extinção de várias espécies de animais, assim como dos biomas naturais, colocando em risco a saúde do ser humano e, por conseguinte, do planeta. A negligência dos valores humanos é uma tônica da sociedade de mercado, sobretudo quando a prioridade está no consumo de massa para o lucro imediato, o que conduz à absoluta falta de limites na produção de todo o tipo de lixo, furtos, entre outros desvios de ordem moral. Assim, chegamos à segunda dezena do século 21 com 92% da população mundial sem acesso ao ar puro e com uma poluição atmosférica que impacta a economia global ao custo de cinco trilhões de dólares por ano. Por outro lado, não há dúvidas de que a presença de vegetação contribui para equilibrar o microclima e purificar a atmosfera, cabendo ao ser humano proteger as áreas verdes, especialmente nas regiões metropolitanas.
Em 1972 a ONU realizou a primeira grande discussão sobre o futuro do planeta em Estocolmo, na Suécia: a “Conferência de Estocolmo”. O evento marcou o início da criação de conceitos de gestão ambiental com o objetivo de disseminá-los como práticas de política ambiental em todo o planeta. Um dos marcos do simpósio foi a criação do Dia Mundial do Meio Ambiente em todo cinco de junho. Mas, diante de tantas adversidades, o que há a celebrar nesta data?
Para reverter o quadro contínuo de degradação ambiental, é fundamental que a formação humana esteja presente no eixo dos projetos de desenvolvimento e de emancipação política das cidades, para tornar o consumo racional no principal parâmetro para o acúmulo de bens. Por esses e outros fatores, não só todos os moradores do Estado do Rio de Janeiro precisam da Reserva Biológica do Tinguá, como a Reserva também precisa de você. Venha conosco somar-se ao “SOS Reserva Biológica do Tinguá”.
*Nelson Freitas é músico, produtor cultural e gestor público de cultura.