QUEM ESTÁ CAUSANDO NO BRASIL - Correio da Lavoura

Últimas Notícias

22 de set. de 2021

QUEM ESTÁ CAUSANDO NO BRASIL

*Vicente Loureiro


Duvido que alguma música sertaneja, novela, atleta olímpico, escândalo ou qualquer celebridade tenha chamado mais atenção do que eles. Até mesmo a política andou tentando, mas o que se viu foi mais do mesmo. Muita espuma e pouco chopp. Barulho demais para entrega de menos. Quem roubou mesmo a cena neste final de inverno e prenúncio de primavera foram eles: os ipês. Graças a uma estupenda floração.

Foto - José Luiz Teixeira

O inverno rigoroso e muito seco deve ter contribuído, segundo especialistas, para o desabrochar de tanta beleza em 4 cores. Para aquém do horizonte, ainda é possível perceber a presença destacada deles nos últimos dias, principalmente dos amarelos, cujas flores costumam aparecer por agora anunciando a chegada da primavera.

Foto - Vicente Loureiro

Indiferente às excessivas polarizações dos tempos atuais, os ipês, com alguma soberba, viralizaram. Suas flores puxaram conversas e comentários por todos os lados e redes, sem precisar de impulsionadores. Beleza dispensa fake news. Existe para encantar. E, no caso, transformar-se em ponto de convergência entre nós. Que não seja o único. Espera-se.

Decretada oficialmente árvore-símbolo do Brasil há 60 anos. Endêmica em todas as regiões, essa cultuada espécie, do final de maio ao princípio de outubro, em tons de roxo, amarelo, rosa e branco costuma encantar a todos e todas. Tornando-se ornamental por excelência, se fez cada vez mais presente nas calçadas, canteiros centrais das avenidas, nas praças e parques públicos, nos jardins e quintais das cidades e capazes ainda de pontuar a paisagem de campos e áreas florestadas, raptando a atenção dos que por eles passam cruzando estradas do interior.

Foto - Vicente Rodrigues

Sua florada é tão pontual que chegam a dizer que suas flores nunca caem na lama, pois só depois de encerrada a floração, chegam às chuvas. Atribuem também aos ipês o dom de colorir, como nenhuma outra, as cidades por quase seis meses. Desde o florir dos roxos entre maio e junho até o das rosas de setembro a outubro. Por essas e outras, é árvore mais plantada no Brasil. Uma espécie de recurso paisagístico de resultado para lá de garantido. Fora, é claro, os exageros de praxe.

Assim, não escolhem lugar para causar. Impossível ficar indiferente a tanta exuberância. Conviver com eles será sempre um alento. E sem trocadilho, um florescer de esperança. Nossos olhos agradecidos haverão de saber reverenciá-los. Viva os encantos e a diversidade dos ipês. A cara do Brasil desprovido de rancor.

*Vicente Loureiro é arquiteto e urbanista.