Vicente Loureiro
Deixa o sol estar. Parece ser esse o sonho dos frequentadores da Praia Central de Balneário Camboriú. A prefeitura da cidade pretende agora realizá-lo ao promover o alargamento, acompanhado de reurbanização, de toda a orla numa extensão de aproximadamente 6 km. Triplicando a largura da faixa de areia e deixando-a inferior apenas à de Copacabana, conseguindo assim devolver a presença do sol negada aos banhistas todas as tardes pelas sombras projetadas dos arranha-céus plantados à beira mar nos últimos 30 anos.
Ainda não há quem seja capaz de assegurar a quantidade de horas em que o sol voltará a ficar na principal praia do Balneário. Justificando seu nome de batismo e permitindo que ele siga a sina, natural e construída, de ser o mais desejado destino turístico e de endereço de todo o sul do Brasil. As obras acontecem em ritmo acelerado. A previsão é de que, no próximo verão, o sol e o mar se encontrem de novo na areia da praia, fazendo acontecer o óbvio e sem sombras, se possível. Afinal, praia sem sol é... não sei!
Engordar a linha de cintura da praia de 25 para 70 metros exigiu complexa solução de engenharia hidráulica. Ainda pouco utilizada por aqui, mas bastante difundida mundo afora. Segundo especialistas, o processo de erosão marinha presente na costa brasileira deve tornar esta iniciativa mais recorrente entre nós. Ainda mais se levarmos em conta a elevação do nível do mar provocada pelas mudanças climáticas. Haja dinheiro e precauções ambientais.
Mas não basta fazer o sol voltar com o alargamento da faixa de areia da Praia Central. A prefeitura lança mão dessa conquista ao mar para implantar uma “orla parque” à altura de uma cidade-paisagem e polo econômico de turismo e serviços, como bem define o masterplan encomendado ao escritório Jaime Lerner. Além de um calçadão em forma de onda, enriquecido por cuidados paisagísticos, quiosques, banheiros públicos, entre outros mimos. Uma ciclovia e uma faixa exclusiva para transporte público e serviços fazem parte das melhorias previstas pelo projeto conceitual de renovação urbana para toda a orla. Entre elas, a mais interessante e inovadora: ruas transversais à avenida litorânea serão transformadas em “caminhos do mar”, dedicadas exclusivamente aos pedestres, com áreas de estar urbano salpicadas de mesas e cadeiras de bares e restaurantes, fazendo a vida do Balneário pulsar ainda mais. Faça sol, faça noite.
Estará tudo muito bem e tudo muito bom, se conseguirem por lá encontrar uma equação mais equilibrada entre a regulação urbanística da cidade e a maratona das alturas travada pelos seus arranha-céus ou cobre-praias. Eles já figuram entre os mais altos do país e, uma dúzia deles ou mais, passam dos 100 metros de altura. O mais empinado tem quase 300 metros em seus 81 andares. A corrida rumo às nuvens não para. Espera aprovação na prefeitura uma torre que pretende abrigar o residencial mais elevado do mundo com 509 metros de altura em 154 pavimentos. Fica uma sombra de dúvida: entre o céu e o mar onde e como o sol vai se pôr no Balneário?
*Vicente Loureiro é arquiteto e urbanista.