Vicente Loureiro
A implantação e gestão de parques urbanos contemporâneos precisam equilibrar demandas aparentemente conflitantes, conciliando aquelas de características naturais com as culturais. Buscando assegurar, como resultado, uma paisagem ecologicamente coerente, abrigando superfícies culturais diversificadas e gratificantes. Um lugar capaz de abraçar e ser abraçado pela vizinhança por oferecer oportunidades qualificadas de realizar encontros, práticas de recreação ou mesmo o ócio e obter entretenimento. E ainda poder usufruir das chamadas comodidades urbanas de vizinhança.
Concursos de projetos para novos parques públicos, promovidos mundo afora, tem trazido em seus programas de necessidades esses desafios impostos pelo novo modelo de vida do homem urbano. Reforçando a tendência de conceber e gerir tais espaços de múltiplas funções com atividades complementares entre si. Consagrando-os como lugares de intenso convívio social destinados a variadas práticas de lazer e esportes, realização de eventos de arte e cultura e a momentos de contemplação e descanso. Incluindo a possibilidade de aquisição de bens e serviços de proximidade presentes no cotidiano dos futuros frequentadores.
Um ambiente de uso público, porém dotados de alguns serviços privados, promovendo diversidade de experiências, conectadas ao contexto socioeconômico do entorno, em harmonia com a paisagem natural e construída das proximidades e aberto ao público dia e noite sem grades ou elementos hostis a permanência e acessibilidade das pessoas. Cumprindo a missão de contribuir na promoção da justiça social urbana através do bem-estar e melhoria da qualidade de vida dos usuários.
Mas, para tanto, o parque urbano contemporâneo deve ficar atento ao imaginário socioespacial dos futuros usuários, traduzido em necessidades tangíveis e concretas a serem atendidas de modo a torná-lo um lugar topofílico, digno da predileção dos frequentadores. São demandas pela a busca da paz, de tranquilidade, do contato com a natureza, do encontro com pessoas e amigos, da prática de atividades físicas, esportivas e de lazer, entre outras. E, se possível, perto de casa, alcançável por uma caminhada ou pedalada de 15 minutos.
É desejável também que seja um lugar livre dos carros e amigável aos pedestres e ciclistas. Desenhado para as pessoas e seus desejos e com soluções baseadas na natureza, resgatando flora e fauna regional, aproveitando água da chuva e gerando energia para consumo interno. Totalmente conectado, via wi-fi público, e preparado para receber a tecnologia 5G e seus desdobramentos, oferecendo espaços grátis para coworkings, games e outras interatividades tecnológicas.
Recomenda-se que tais espaços tenham ligação direta com o transporte público. Sem comprometer suas responsabilidades ecológicas e paisagísticas, deve absorver cafés, bares e restaurantes, indispensáveis na contemporaneidade por boa parte das atividades de socialização entre as pessoas, bem como estimular a presença de ambientes destinados a produções artísticas e culturais, promotoras de encontros e maior celebrações. Nos novos parques urbanos, o interesse público não parece ficar a cargo apenas do Estado, já que agentes privados e do terceiro setor estão cada vez mais presentes, inclusive na manutenção e melhoria permanente dos mesmos. Talvez o que falte é um bom ambiente de regulação, para que este modelo possa prosperar.
*Vicente Loureiro é arquiteto, urbanista e escritor.