Vicente Loureiro
Os prédios comerciais, sejam eles formados por escritórios, andares corporativos ou até mesmo shopping centers, atravessam uma transição de propósitos. Precisam se reposicionar diante da nova era do trabalho, realizável doravante em qualquer lugar; das mudanças nos costumes de consumo, alavancadas pelas novas tecnologias; e pelas imposições de cuidados sanitários e de bem-estar trazidas pelo Covid, entre outras razões.
Em cidades do mundo desenvolvido, como Nova York, Chicago, Los Angeles e Londres, por exemplo, onde imagina-se que 80% dos edifícios hoje existentes estarão de pé em 2050, o destino daqueles exclusivamente comerciais tem provocado intenso debate e já começam a aparecer intervenções de reutilização adaptativa ousadas. Incluindo até construções icônicas como a Sears Tower, em Chicago, o arranha céu mais alto do mundo no século passado.
Empresas de consultoria e renomados arquitetos e urbanistas estão envolvidos nessa busca de estabelecer um novo papel para edifícios que já não cumprem os objetivos de sua concepção original. Estão chamando este esforço de reutilização adaptativa, um conceito novo para além de um simples “retrofit” ou de atualização tecnológica e melhoria na qualidade do ambiente interno das edificações. Querem torná-los úteis novamente, atraentes e, em alguns casos, até com maior relevância, sobretudo aqueles com passado ou carisma de inegável valor.
Já conseguem apontar inclusive algumas tendências. A primeira é de que o trabalho em base analógica, exigindo sem número de mesas dispostas em espaços empilhados e impessoais, não fazem mais sentido. Acreditam também que os protocolos de segurança, transformando tais prédios em ambientes insulares e autônomos em relação ao contexto urbano circundante, também serão substituídos por relações mais interativas e inclusivas com a vizinhança. Apostam em levar a cidade para dentro dos edifícios e fazer deles instrumento ativo de renovação da própria cidade. Principalmente através dos pavimentos térreos, mas não só.
*Vicente Loureiro é arquiteto, urbanista e escritor.