*Vicente Loureiro
Costuma-se usar o substantivo habitabilidade para definir a qualidade daquilo que se pode habitar ou esteja em plenas condições de ser habitado. Tem sido utilizado também para ajudar a averiguar os pré-requisitos que uma cidade necessita cumprir para garantir bom acolhimento a seus moradores permanentes ou eventuais. Por conta disso, a revista The Economist, através do EIU (The Economist Intelligence Unit), criou e atualiza regularmente o índice global de habitabilidade. Avaliando quais locais, ao redor do mundo, oferecem os melhores e piores padrões de qualidade de vida.
Viena ficou em primeiro lugar |
Esse relatório, editado pela prestimosa revista inglesa, tem servido a vários usos, seja para governantes, pesquisadores e investidores. Desde o “benchmarking” para comparar os diferentes estágios de desenvolvimento das cidades avaliadas e, até mesmo, para medir os impactos positivos e negativos das políticas de governo adotadas em cada uma delas e pelos países onde estão localizadas. Tal qualificação ajuda também a quantificar os desafios que podem ainda estar presente para melhoria das condições de vida praticadas.
Tal inventário contém uma classificação de conforto relativa a mais de 30 fatores qualitativos e quantitativos, agrupados em cinco grandes categorias: estabilidade, assistência médica, cultura e meio ambiente, educação e infraestrutura, sendo que cada um é avaliado como aceitável, tolerável, desconfortável, indesejável e intolerável. Esse levantamento foi aplicado em 173 cidades em todo o mundo, identificando o que as faz melhor ou pior para se viver.
Copenhague ficou com a segunda colocação |
Viena, capital da Áustria, ficou em primeiro lugar na lista das melhores cidades do mundo em 2022. Sua estabilidade política, econômica e social e a boa infraestrutura urbana disponível são seus principais atributos, respaldados ainda por um bom atendimento médico, acesso universal à educação de qualidade e muitas oportunidades de cultura, entretenimento e lazer ofertados. É seguida por Copenhague, Zurique, Calgary, Vancouver, Genebra Frankfurt, Toronto, Amsterdam e Osaka. Conformando com elas a lista das 10 mais. Todas de porte médio, localizadas em países ricos, com densidade populacional não muito elevada e, claro, apresentando as menores taxas de homicídios entre todas as pesquisadas.
Infelizmente, as cidades brasileiras não estão bem classificadas neste ranking. Desaceleração econômica agravada pela pandemia, crises políticas absolutamente desnecessárias e condições sociais aviltantes, sobretudo para os mais vulneráveis, fazem a performance da qualidade de vida ou de habitabilidade urbana ficar bastante aquém do desejável. Uma prova de que a vida nas cidades não depende só do desempenho de seus prefeitos e cidadãos. A política econômica e de segurança pública, entre outras, tem impacto relevante no cotidiano e no futuro delas.
Assim, e de acordo com a pesquisa da The Economist, a crise econômica, a turbulência política, o sub investimento e a sobrecarga da infraestrutura, as altas taxas de criminalidade, os congestionamentos e a precariedade dos transportes públicos e a baixa eficácia institucional para sustentar estabilidade e harmonia entre poderes, entre outros fatores, impactam negativamente nas condições de habitabilidade das cidades. Pelo jeito, temos um grande dever de casa a cumprir para ver de novo cidades brasileiras bem postadas nesse índice global de habitabilidade urbana. Não basta escolher bem prefeitos e vereadores.
*Vicente Loureiro é arquiteto, urbanista e escritor.