*Vicente Loureiro
Realizou-se recentemente em Helsinki, capital da Finlândia, o World Cities Culture Fórum (WCCF), promovido pela ONU e reunindo cerca de 40 cidades de todo mundo que apostam na cultura como ferramenta de desenvolvimento econômico e social, através, principalmente, da geração de conhecimento e do exercício do pensamento, criando oportunidades e valores fundamentais na formação pessoal, moral e intelectual dos cidadãos e no aperfeiçoamento do relacionamento entre eles.
Repensaram, durante o evento, o conceito de cultura e seu papel numa sociedade pós-pandêmica. Concluíram que a produção cultural contemporânea não pode ser promovida sem articulação com os demais setores da vida nas cidades, como educação, saúde e desenvolvimento econômico, entre outros. Atuando de modo integrado, as ações culturais não só melhoram a vida do cidadão, mas de toda a comunidade. Imaginam, dessa forma, contribuir para aumentar o PIB per capita, a qualidade de vida e a prosperidade da população.
Constataram os gestores de políticas culturais presentes ao Fórum, que estão localizados nas cidades os espaços próprios e adequados a criação, produção e difusão cultural. A vida urbana é onde as práticas culturais expressam, com toda magnitude, os modos de ser e de viver em sociedade e, através delas, forjam e afirmam a cidadania de seus habitantes.
Discutiram também os rumos e tendências dos equipamentos destinados a abrigar e promover a arte e cultura nas cidades. Destacaram o papel dos centros criadores de destinos e experiências culturais já existentes em algumas delas e suas propostas inovadoras, como as incubadoras de talentos e as aldeias de produtores culturais, consagrando às bibliotecas parques ou aos centros culturais, o papel de serem cada vez mais ambientes abertos a curadorias diversas e a imersão em atividades inspiradoras da curiosidade, imaginação e criatividade dos usuários. Uma relação mais interativa e transformadora no contato com as formas e manifestações de arte e cultura.
Devendo, por conta disso, serem cada vez mais espaços públicos urbanos não comerciais, abertos a toda população, destinados a promover o aprendizado ao longo da vida, a prática da cidadania ativa e da liberdade de expressão e do aperfeiçoamento da democracia e equipados para assegurar acesso a criação artística variada. Deixando assim de serem lugares só de consumo passivo de arte e cultura e passando a funcionar como polos de produção de ideias, comportamentos, símbolos e atitudes inovadoras.
O WCCF recalca a percepção de que a cultura já é e será cada vez mais fator decisivo de humanização e prosperidade das cidades, principalmente daquelas que souberem se transformar em destinos culturais.
*Vicente Loureiro é arquiteto, urbanista e escritor.