*Vicente Loureiro
No próximo ano teremos eleições municipais. Será, portanto, um ano de algumas entregas e promessas renovadas nas cidades brasileiras. O calendário eleitoral costuma acelerar a conclusão de obras e a promoção de melhorias nos serviços públicos essenciais e reclamados pela população. É tempo também de velhas e novas propostas tomarem conta das campanhas, fazendo todo mundo olhar para o futuro com um pouco mais de esperança, apesar de nem sempre os candidatos proponentes merecerem lá muito crédito.
É assim, sucede-se a cada 4 anos, os que estão no governo fazem de tudo para mostrar o que fizeram e o que pode ainda fazer se receberem mais um voto de confiança. Os da oposição, ao contrário, procuram mostrar o que ainda está por fazer ou vem sendo mal feito. O produto dessa salutar disputa faz as cidades de certa forma progredirem. As ruas ganham aquele banho de asfalto, as praças um retoque qualquer, escolas e postos de saúde novos são inaugurados enquanto os existentes, às vezes, recebem um ou outro cuidado. Nada muito além disso costuma compor o portfólio das entregas, exceto claro as exceções de praxe.
Há por vezes investimentos estruturantes realizados parcial ou integralmente durante o exercício de um mandato. Como também avanços são praticados na gestão da saúde da educação, dos transportes, da limpeza pública, entre outros. E são bem-vindos, pois de um modo geral fazem subir a régua da qualidade de vida. Nem que seja de uma pequena parcela da população, pois na maioria das vezes, infelizmente, o foco de tais ações não se dirige aos mais necessitados.
As cidades brasileiras, principalmente as médias e grandes, nessa trajetória de desenvolvimento aferida a cada 4 anos tem deixado um rastro de passivos urbanísticos, sociais e ambientais. A forma delas se reproduzirem tem se dado mais na precariedade e de modo informal do que dentro de condições mínimas para um viver urbano digno e acessível a todos. As entregas, catapultadas pelas eleições, minimizam aqui ali as sequelas, mas não tem tido o condão de estancar processo tão desigual na distribuição de bens e serviços de interesse público. Uma lástima.
Seria bom se pudéssemos, nesses anos de entregas de promessas, avaliar se nossas cidades se desenvolveram no rumo planejado, se conseguiram reduzir de fato as desigualdades sócio espaciais, se os serviços ofertados à população ficaram mais acessíveis e melhores e se os indicadores capazes de medir se as condições objetivas de vida apresentaram avanços concretos. Enfim, se o governo que em 2024 termina deixa a cidade melhor do que quando começou. Nos tempos atuais é provável que fake news dificultem ainda mais as tentativas de aferição mais precisas e confiáveis do desempenho dos governos locais. Oxalá esteja eu equivocado.
Mas vivam as eleições, se com elas ainda vivemos problemas, sem elas seria muito pior. O que parece indispensável é aproveitar o alcance das redes sociais para disseminar boas e fidedignas informações sobre as entregas dos governos em fase final de mandato. E outras que permitam conferir o quanto realizáveis são as promessas daqueles que desejam governar as cidades a partir de 2025. Na Era da Informação não é sonhar alto crer no papel transformador de cada uma delas no modo de fazer cidades ficarem melhores e mais justas.
*Vicente Loureiro é arquiteto, urbanista e escritor.