*Vicente Loureiro
Recorro ao princípio da física, transformado em brinquedo infantil presente em todo playground que se preze, para destacar um fenômeno demográfico e urbanístico acentuado neste século, mas com início nas décadas finais do anterior. Forço um pouco a barra, pois a gangorra decorrente desse fenômeno tende, pelo menos nos próximos anos, a não ter alternância de movimentos para baixo e para cima. Se fosse realmente como na brincadeira de verdade, essa gangorra, de evidências estatísticas, seria pouco atraente.
Feita a ressalva, vamos aos números. Entre os censos de 2000 e 2022, a população da Região Metropolitana do Rio cresceu cerca de 7%. Ganhou aproximadamente 1 milhão de novos habitantes na primeira década, mas perdeu perto de 200 mil na seguinte. Quer dizer, o lado da gangorra onde estaria sentada a demografia vinha subindo, mas começou a descer. E, pelo visto, parece que vai continuar caindo.
Apesar de tendências nem sempre se tornarem destino, no caso da população metropolitana, o “pra baixo todo santo ajuda” vem contribuindo para esse lado da gangorra seguir descendo. Do outro lado, que não para de subir, estão os domicílios, contados também nos dois recenseamentos. Grosso modo, podemos dizer que, para cada 3 domicílios existentes em 2000, surgiram outros 2 novos em 2022. Ou seja, onde existiam 3,3 milhões de domicílios, surgiram mais 2,2 milhões.
Na gangorra de verdade, costuma-se praticar a correlação entre forças em oposição, quase sempre guardando alguma proporcionalidade. Na que está acontecendo na Região Metropolitana do Rio, há razões e causas comuns, seja no envelhecimento da população, seja no crescimento do parque imobiliário que a abriga. A redução da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida, entre outros fatores comportamentais, vêm empurrando o número de habitantes para baixo, ao mesmo tempo em que catapultam para cima a quantidade de domicílios. Porém, de forma desproporcional.
A metrópole vem, neste século, crescendo fisicamente em número de domicílios e começa a apresentar, em algumas de suas cidades, a redução de habitantes. O que agrava esse movimento desequilibrado da gangorra, é o fato de parte considerável desses novos domicílios, estar sendo produzida em setores informais e em condições precarizadas, tornando ainda mais difícil os desafios e passivos urbanísticos já presentes em seu território.
Conduzir o desenvolvimento imobiliário da região para áreas onde se dispõe de infraestrutura, principalmente de mobilidade e saneamento, exige uma governança compartilhada sobre esse processo de expansão descontrolada e socialmente perversa. Caso contrário, as cidades ficarão ainda piores para se viver, como temos visto a cada censo.
O dramático é que as evidências estatísticas não sensibilizam tanto quanto aquelas da canção sertaneja. Infelizmente.
*Vicente Loureiro é arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa e autor dos livros “Prosa Urbana” e “Tempo de Cidade”.