*Jorge Gama
A narrativa do golpe foi desconstruída.
O dia 8 de janeiro de 2023 caiu num domingo. Seria o melhor dia para um golpe de Estado? Ou o dia ideal para exibir ao público pelas redes de TV as cenas de vandalismo orquestradas com todos os detalhes, em edição nacional muito bem elaborada, com “efeitos especiais” necessários?
A invasão aos 3 poderes num quebra-quebra, com ares de festa e muita alegria tomou conta do noticiário da velha mídia de domingo. Nos primeiros momentos desse episódio, a perplexidade dominou a mente do país.
Já no dia 9 de janeiro (segunda-feira), o expediente oficial foi sendo normalizado com as medidas do governo que não caiu sendo aplicadas. As punições necessárias foram tomadas e outras já estavam em andamento acelerado. Aos poucos, a versão da tentativa de golpe já estava consagrada.
A narrativa da velha mídia já estava unificada e a massificação das imagens reforçadas pelos comentários de “tentativa de golpe” estava em todos os lugares.
Como não ocorreu de fato nenhum golpe, prevaleceu como tema central “a tentativa de golpe”.
As providências, diligências, inquisições, investigações, suspeitas e prisões, tomavam conta do noticiário reforçando, sem parar, a narrativa.
Os 3 poderes atingidos falavam a mesma voz e no mesmo tom: “O Estado Democrático de Direito havia sido atacado pelos golpistas”.
As denominadas “punições severas” e o “doa a quem doer”, tomavam conta do noticiário. As penalidades, que em outros episódios de corrupção variavam de tom, nesse caso, foi rapidamente definido: 17 anos.
Para todos, independente de uma adequada investigação, o número 17 (anos de prisão) já estava escolhido. Tudo parecia bem, até a chegada da incômoda e traiçoeira moda das redes sociais com seus vídeos reveladores.
A cena do Gal. Gonçalves Dias, percorrendo calmamente e gentilmente os corredores do Palácio do Planalto no decorrer dos acontecimentos e das manifestações causou perplexidade.
Em outros vídeos outras autoridades e o próprio Ministro da Defesa circulam no mesmo ambiente dos revoltosos. Como uma tentativa de golpe que deveria ser severamente reprimida poderia transitar tão civilizadamente com as autoridades no mesmo local e quase no mesmo instante?
Nesse exato momento, a farsa foi descoberta e revelada nos vídeos das mídias sociais amplamente exibidos. Certamente outros ainda não foram revelados. No dia 19 de abril de 2023, o Gal. Gonçalves Dias, diante das evidências, sai do governo.
As penalidades coletivas (17 anos de prisão) são visivelmente contestáveis. Os fatos geradores são originalmente duvidosos.
O governo Lula tem seu desgaste no preço dos alimentos, que em breve voltará à normalidade. Seu maior desgaste, no entanto, é no trânsito político, quando sustenta uma “tentativa de golpe” que não ocorreu. Lula foi o maior beneficiário da anistia política e agora exige punições de pessoas inocentes.
À direita, ainda sem rumo, finalmente percebeu que a anistia é o ato mais justo e que a tese vai unificar todas as melhores correntes políticas do país.
Toda prisão política é detestável. Sai do plano legal da justiça para ingressar na prática do justiçamento.
Vamos retornar ao Estado Democrático de Direito!
Anistia já!
*Jorge Gama é advogado.